Então você chegou àquela famosa cadeira da direção — só pra perceber que, talvez, você vai ficar de pé a maioria do tempo e que não há muito glamour nisso. Você tem uma equipe, você tem algo para captar e precisa fazer a entrega: tudo isso precisa funcionar bem, e, mais do que ninguém, é a direção do set quem vai precisar garantir isso tudo. E agora?

Vamos ser francos: é muito legal dirigir o set de filmagem. Por mais que se faça um pouco de “cena” — juro que não é um trocadilho intencional — quanto à função, é uma sensação muito boa quando você tem a chance de poder realmente coordenar como as coisas vão funcionar. Dirigir está longe de ser o ideal de “eu mando, vocês trabalham”, porque todo mundo sabe que o diretor das filmagens é mais uma das pessoas que trabalha muito nas gravações: tudo que você, enquanto diretor, vai fazer, precisa de muito cuidado, porque, de alguma forma, depende da sua decisão.

O ideal é começar estudando aquilo que vai ser entregue, ou seja, ler o briefing ou ainda estar alinhado com as expectativas do cliente — tudo isso apresentado naquele “tratamento de direção” que você fez ou construiu em equipe. Se quer uma dica, essa é uma: quanto mais e melhor você souber da proposta daquilo que vai captar, mais fácil e eficiente vai se tornar o seu trabalho.

 

Depois de fazer a “lição de casa”, você vai precisar se organizar pra entender o que precisa ser feito para que os objetivos e fins propostos pelo seu planejamento sejam cumpridos. Veja seu orçamento e sua equipe e entenda como poderá utilizá-los da melhor forma: quem pode fazer o que, como vai fazer e com que dinheiro. Organize-se e saiba o que, de quem e quando poderá cobrar de pessoas processos e demandas do projeto que está dirigindo — isso pode ser feito com o app Trello que muito em breve vamos fazer um artigo de “como fazer”.

Apesar de estar no ponto de decisão, delegar funções é uma ótima ideia dentro do set: as coisas podem ficar bem agitadas, principalmente com um número de pessoas um pouco grande dentro do estúdio, todas elas falando com você ao mesmo tempo, e isso pode desorganizar as atividades. Delegar pode garantir um pouco de alívio pra você, ao mesmo tempo em que garante que aquilo que você já planejou seja feito conforme você definiu.

Isso não significa, contudo, que você não deve acompanhar os processos que estão feitos. A luz sempre pode ser melhorada, o áudio sempre pode ser um pouquinho mais ajustado, o modo de apresentação do figurino pode sempre ser rearranjado…enfim, saber o que está acontecendo dentro do set em termos de “em que pé estamos, gente?” é também muito importante: sempre falta alguém, um equipamento apresenta falhas ou aquela cena que no papel ficava maravilhosa, na vida real é estranha: se você não se atentar a isso, você pode perder de fato o controle.

E por mais que a gente saiba que a diária tem um tempo, que o estúdio não vai estar disponível pela eternidade, muitas vezes vai ser essencial rodar aquela cena de novo ou ainda um “não gostei” da sua até tudo ficar realmente bom. É chato ter que fazer a mesma coisa, mas sabe aquela pequena desconfiança que fica martelando na sua cabeça de um take que você não gostou, ou de um enquadramento que ficou estranho? Sugestão: ela te ajuda muito na entrega de um trabalho que tenha uma boa qualidade.

Aquela cadeirinha que a gente sabe que não vai ficar muito tempo sentado exige também um quê de cuidado por quem está no set, trabalhando com você e sob a sua supervisão. “Está tudo certo?”, “Todo mundo veio?” entre outras são perguntas que você vai ter que fazer a fim de manter sua equipe trabalhando e motivada: uma equipe bem cuidada trabalha com maior cuidado. Respeite pausas; se a gravação tomar muito tempo, descontraia em alguns momentos. Um café é sempre bem-vindo. Uma boa direção está mais na questão de como você vai gerir recursos e pessoas para um bom final do que somente exercer sua autoridade dentro do estúdio de gravação.

Por fim, feita a gravação, garanta a organização para a finalização. Um exemplo, a equipe que faz o logging — que é quem cuida de nomear arquivos de captação e catalogar o que foi e o que não foi captado — deve te dar um feedback de que não falta mais nada a gravar antes que as coisas comecem a ser desmontadas e os atores, se houverem, serem dispensados. Ainda que essa resposta seja positiva e tudo já esteja feito, guardar materiais, ou ainda terminar os trabalhos deve ser feito seguindo uma organização de modo a não prejudicar o trabalho que já foi feito até ali. A conferência de listas de equipamentos, de cenas gravadas, de objetivos daquela diária devem ser feitas antes da ordem de desmontar.

Claro que o que a gente cobre aqui é o básico e não há uma fórmula bem definida para como dirigir um set: a função de diretor ou diretora vai te apresentar muitas outras coisas. Sem pessimismos: serão problemas, em geral—problemas com equipe, com equipamento, com ritmo de gravação…acho que lista-los todos não é o melhor caminho. Mas o interessante disso tudo é que é com eles você vai aprender e vai ser a partir deles que suas entregas serão cada vez melhores e vão te fazer perceber que dirigir o set de filmagem fala muito mais sobre aquele famoso grito no megafone: ação!

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